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Amores líquidos

Minha melhor amiga, do tipo que passou a vida inteira namorando, tá solteira há pouco tempo. Solteira mesmo, querendo viver dez anos em dez dias. Isso é mais que uma simples transição, é uma escolha, um posicionamento. E eu, infelizmente, não consigo adaptar ela a essa nova realidade sem dor. Sem que ela sinta na própria pele o descaso dos carinhas patéticos travestidos de bons moços, sinta na própria boca o gosto amargo do dia seguinte. Não posso evitar as lágrimas no travesseiro e o vazio no peito, porque ela não foi tratada como uma princesa pelo idiota que ela fica de vez em quando. Assim como namorar, ser solteira tem seus prós e contras. Os prós são maravilhosos, mas se você não aprender a lidar com os contras, eles te destroem em pouco tempo. O deslumbre de vida nova é uma sensação incrível, eu sei. Essa sede de liberdade, fome de vida, vontade de experimentar tudo e todos pra ontem. Sentir o vento no rosto gritando que a vida é rara e breve. Mas no dia seguinte, ele não vai ligar. E o grande primeiro passo de ser uma nova solteira é não esperar essa ligação, porque ele não é ninguém. Entender que ficar se importando com tudo é só perda de tempo e, consequentemente, vida. Mas essa gente é viciada em criar laços afetivos com Deus e o mundo, então é um longo processo se acostumar com a casualidade e o descompromisso. Dá pra ser do mundo, mas não dá pro mundo ser seu, querida. Não se pode ter só os lados positivos das coisas. Esquece os filmes de comédia romântica. Aqui fora da bolha de promessa de amor eterno e relacionamento sólido, o jogo é bruto. Não dá pra preservar a inocência e sair pintando tudo de rosa. Não dá nem pra saber no que acreditar. As pessoas são sujas, usam, jogam, mentem, manipulam, se acomodam, se gabam. Você não precisa desacreditar de coisas bonitas, mas se você não souber jogar, é game over, entende? Princesas não sobrevivem em tempos de amores líquidos.

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