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Vingança

Passei anos e anos planejando vingança. Queria cena de cinema, não um surto psicótico de 20 minutinhos, desses que qualquer uma faz. Sempre soube esperar o prato esfriar, porque toda uma cultura me ensinou que se come frio. Sou justiça da cabeça aos pés, só que nunca fui fã de comida fria. Quando tá tudo finalmente pronto, no ponto, me dá preguiça. Um desperdício, porque todas as minhas falas ensaiadas renderiam um capítulo inteiro de novela, daqueles imperdíveis, de final de trama. Mas não vale a pena, porque já não me afeta e tudo isso me parece só mais perda de tempo. Não tenho mais tempo pra perder. Poderia cobrar com juros e dar o troco, coberta de razão e justificavelmente descoberta de equilíbrio. Mas pra que, se passa por mim e não me transpassa? Por que, se o sentimento perdeu o sentido e nem a vingança parece ter graça? Querer o bem e nada além ás vezes machuca mais do que eu conseguiria planejar em mil anos. E eu juro que não é a intenção, que não tem intenção, só um desinteresse carinhoso, por todo o tempo em que eu fui essa história em cada poro do meu corpo. Todo esse tempo me esforçando pra ser boa o suficiente pra alguém e no fim me tornar boa demais. Irônias dessas histórias que se atrapalham na hora e no tempo de acontecer. Não sei se ganhei ou se perdi, mas cresci uns 20 anos sem nem envelhecer. Esqueço a dívida, nunca me faz falta, pode ficar pra você.

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