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Engraçado

Engraçado como o que cega a gente, na verdade, não é o amor, é a burrice. E, cá entre nós, meus olhos eram totalmente vendados quando eu tava do seu lado – sim, assumo minha ferradura. O mundo inteiro sempre me avisou que você não era do meu mundo, nem do mundo de ninguém. Sempre insisti, persisti e, principalmente, sofri. Eu e minha sina de querer ver bondade em quem faz questão de ser cruel. Uma pena. Mudei tudo, desde o cabelo até meus gostos musicais. Demorei pra perceber que o único que deveria mudar era você. Perdi tempo, perdi amigos, me perdi. Fiquei presa nesse teu abismo por anos, olhos vendados, por pouco não achei a saída. Tinha me tornado a própria Isaura, escravizada, acorrentada em toda essa loucura que era estar com você. Vez ou outra eu fugia, ganhava a alforria, mas sempre voltava. Sempre. Uma possessividade maluca, quase uma droga. Muito mais que apaixonada, eu tinha virado uma viciada. Difícil de acreditar. Mas você sempre teve esse poder, engraçado. Não fui a primeira a cair na tua teia, a ficar meses sendo enrolada no casulo, dopada, pra no final você dar o bote. Conheço gente que até hoje mal se dá conta das correntes em volta do pulso, inacreditável. Conquistei a liberdade, sobrevivi a anos de coração partido. Escalei o abismo, tirei a venda dos olhos e enxerguei, enxerguei cada cor de cada detalhe, e você era tão cinza e escuro, mal acreditei.

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